Apesar de servir de inspiração para
a criação de contos engraçados (como é o caso do Sr. Lunga, homem nascido no
Nordeste brasileiro que trata a tudo e a todos com muita grosseria e vive mau-humorado),
o que muita gente não sabe, é que o mau-humor pode conduzir o sujeito a uma
situação de perigo. Perigo este que põe em risco a sua própria vida, pois há
doenças, como a Distimia, situada no CID.10 (Classificação Internacional das
Doenças), na seção que trata dos Transtornos Persistentes do Humor, cujo um dos
sintomas apresentados é a tendência suicida.
Distimia vem do grego e significa
mau humor. É um transtorno depressivo de natureza crônica (denominação dada às
doenças que não são resolvidas num intervalo curto de tempo e na qual os sintomas
existem de forma contínua), aflige principalmente as mulheres. Os sintomas incomodam
muito e são perigosos, apesar de serem mais leves que os de uma Depressão e tem
longa duração (persistem por mais ou menos dois anos) e, apesar de leves, não
significa que mereçam pouca atenção e cuidados. A irritabilidade, comportamento
explosivos, insônia, alteração no apetite, baixa auto-estima, insegurança,
ansiedade, preocupação excessiva, pouca tolerância com o ambiente, tendência ao
uso de drogas lícitas e ilícitas são sinais manifestados presentes nos
portadores desta síndrome. O abuso de drogas lícitas e ilícitas na distimia vem
como uma tentativa de diminuir a angústia, o mal-estar e a irritação. O indivíduo
é marcado por uma falta de sentimento de esperança, de que as coisas na vida podem
melhorar, ou seja, constante presença de um sentimento de negatividade.
O pessimismo é uma característica
típica deste transtorno. Pessoas com distimia reclamam muito da vida e só vêem
o lado negativo de tudo. São pessoas de difícil relacionamento. Não há
investimento em fazer amizades, de modo que os distímicos tendem ao isolamento
e até são rejeitados socialmente, já que são vistos como pessoas chatas. Com a
área social praticamente inativa, suas energias concentram-se no trabalho.
A diferença básica entre depressão e distimia
é que na primeira, os sintomas surgem, poderíamos dizer, de uma forma abrupta, ou
seja, antes a pessoa tinha um humor normal e levava uma vida normal e aí, os
sintomas aparecem “repentinamente”. Já na distimia, o sujeito sempre teve um
humor complicado, os familiares sempre acharam que a pessoa era de difícil relacionamento;
de tal modo que não podemos afirmar que houve uma mudança repentina, já que,
geralmente, desde a infância/adolescência eles apresentavam um tipo de comportamento
característico da distimia.
A busca por tratamento acontece
tardiamente, pois, o indivíduo acredita não haver nada de errado em seu
comportamento, afinal ele considera esses traços (irritabilidade, mau-humor,
pessimismo) como algo pertencente ao seu jeito de ser. Essa ausência de
autocrítica atrapalha o reconhecimento de que há a necessidade de se buscar
ajuda profissional.
O que muita gente também não tem
conhecimento é que as pessoas que exercem profissões que lidam com estresse
excessivo e constante estão propensas a desenvolver o quadro distímico. Como exemplo
de um destes profissionais, temos os que atuam na Polícia Federal. Além da alta
carga de estresse, as pessoas que optam por esta carreira são encaminhadas para
os destinos inóspitos e muitas vezes distantes da civilização, mantendo-os a
uma rotina de isolamento.
Outro dado não levado ao
conhecimento público é o de que os casos de suicídio entre os policiais
federais têm aumentado, e o mais grave: apesar de estarem no grupo de risco, o serviço
de acompanhamento psicológico a estes (uma importante arma tanto na prevenção,
quanto no tratamento desta doença), quando é oferecido, é deficiente. As ações
que ocorrem nesta área são restritas aos casos emergenciais e o quantitativo de
psicólogos colocados à disposição para os policiais não é suficiente, conforme
afirma Josias Fernandes Alves, agente de Polícia Federal, formado em Jornalismo
e Direito e diretor de Comunicação da Federação Nacional de Policiais Federais
no texto cujo acesso pode ser feito pelo link:
Há ainda afirmações de que tal
serviço não existe, apesar de ter sido mencionado, em uma reportagem da Revista
Veja (dia 28 de janeiro de 2013, página 37) que, devido aos casos de suicídio, fora criado um serviço de apoio psicológico
aos integrantes da corporação.
Para finalizar, é importante
deixar registrado que o tratamento medicamentoso é feito com inibidores
seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) como a Fluoxetina (nomes
comerciais: Prozac, Daforin) em conjunto com psicoterapia.
Ademais, não posso deixar de
manifestar minha indignação com a atuação do Poder Público que, ao se omitir em
providenciar tratamento especializado de forma satisfatória aos policiais,
acaba por se omitir em sua responsabilidade de cuidar da saúde daqueles que
servem ao país.
Um abraço a todos os leitores
Thatianny Moreira