segunda-feira, 22 de abril de 2013

Considerações a respeito de algumas formalidades para se iniciar o Processo de Psicoterapia:


Sabemos que o acesso aos serviços de Psicologia, na área clínica, apenas tornaram-se obrigatórios em abril de 2008. Foi quando a Agência Nacional de Saúde exigiu que tais planos ofertassem, aos seus usuários, a psicoterapia para tratamento das “adversidades” na saúde mental.

De lá para cá, algumas vitórias foram sendo conquistadas. Uma delas, o aumento na quantidade de consultas liberadas por ano que, inicialmente, eram apenas de doze.

Mas, infelizmente, ainda enfrentamos (os psicólogos) alguns obstáculos para exercer com plenitude o exercício da nossa profissão. A formalidade do encaminhamento é um deles. Para chegar ao nosso consultório, o paciente tem que antes ir a um médico (geralmente, psiquiatra ou clinico geral). Este então realizará uma avaliação para verificar se há demanda. Caso haja, o médico fará uma solicitação por escrito.

No meu ponto de vista, tal procedimento dificulta a procura do tratamento psicológico por parte do cliente que, muitas vezes, disponibiliza de pouco tempo em virtude de fatores diversos, tais como a alta jornada de trabalho e a necessidade de deslocar-se para seus compromissos por meio dos transportes públicos. Ademais, a resistência é um fator sui generis (que é inerente) ao processo de busca de um psicólogo. O sujeito, ao constatar que precisa fazer psicoterapia, vê-se correndo o risco de ser marginalizado pela sociedade que, por falta de esclarecimento, interpreta tal pessoa como “louca”. E assim, um longo tempo de intervalo se instala entre a consulta com o médico e o começo da psicoterapia.

Mais um ingrediente se acrescenta a esta imensa montanha de obstáculos para que os cuidados necessários à manutenção da saúde mental possam prosseguir. Isto ocorre mesmo depois que foi dado início ao tratamento com o profissional da Psicologia: surgem a exigência, por parte dos planos de saúde, de identificar o CID- Código Internacional de Doenças- do paciente. Tal numeração  faz parte de um manual de classificação nosológica (sistematização das enfermidades em blocos de transtornos de acordo com a sintomatologia). A partir daqui, o profissional da Psicologia se vê diante da obrigação de colocar seu paciente, dentro de compartimentos, levando em consideração os sintomas apresentados pelo paciente em sua primeira consulta.

É exatamente na primeira oportunidade que o psicólogo tem, diante da pessoa, que ele definirá seu diagnóstico. Um ato de alto risco. Alto risco porque, julgo ser muito precipitado, baseando-me apenas em um único encontro, decidir em qual código o paciente se encaixa. Penso que tal procedimento privilegia não o ser humano em si, mas sim a doença que ele traz consigo, e, além disto, arriscamo-nos a expor a intimidade da pessoa. Isto sem mencionar a ansiedade que podemos despertar no paciente a partir do instante que ele tem, em suas mãos, uma classificação que, muitas vezes, não tem a mínima compreensão do que é.

Minha atuação em consultório é pautada  com base na fundamentação teórica da Gestalt-Terapia (cujo conceito já tive a oportunidade de explicar em outro texto aos leitores do meu blog). Tal teoria não tem como foco do processo a doença, mas sim o “doente”. Não privilegiamos o sintoma, mas, acima de qualquer coisa, o ser humano que sofre por causa do sintoma.

Da mesma forma que o processo de humanização já chegou aos hospitais e hoje fundamenta a relação médico-paciente, gerando uma maneira de tratar os doentes não como meros números que preenchem um leito, mas sim como seres humanos que têm sentimentos, acredito ser de extrema urgência uma transformação na maneira de lidar com algumas questões no âmbito dos procedimentos de liberação das consultas psicológicas. Tal ótica, descrita nos parágrafos anteriores, está ultrapassada e é incompatível com a dignidade humana, bem como com a evolução científica. Portanto, vamos lutar para que o panorama atual se modifique!

Um abraço
Thatianny Moreira

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Você tem medo do que?



Hodiernamente, tem se tornado cada vez mais comum ouvir, nos consultórios de Psicologia, frases tais como: “Meu coração dispara o tempo todo”; “Tenho medo de morrer”, “Meu corpo treme da cabeça aos pés”, “Sinto uma falta de ar horrível!”. “Tenho a sensação de que vou infartar de tão forte que é a dor no meu peito”. O medo e a ansiedade são os motivos centrais para a eclosão destes sintomas.

Percebo que a rotina da vida destas pessoas a partir daí ficará limitada, dominada pelo sentimento de medo. Algumas não saem de casa porque temem que algo de terrível aconteça. Outras não conseguem ficar sozinhas e precisam da companhia constante de alguém. O pânico invade os corações daqueles que temem. A insegurança habita o corpo e a alma sem pedir licença. A dor no peito faz o sujeito acreditar que terá um infarto. Tornam-se frequentes as idas ao hospital, a marcação de consultas, a realização de exames. Mas problema algum de ordem física é encontrado e a família começa a desacreditar no que é dito por quem é acometido deste problema.

Formar-se-á um ciclo vicioso que dará sustentação para a manutenção do quadro. A pessoa fará associações entre os locais onde a crise se manifestou e os sintomas e assim, uma espécie de comportamento defensivo vai se instalar. Serão evitados todos os locais que tenham ligação com o surgimento da crise e, aos poucos, o isolamento será outra característica típica do paciente acometido pela síndrome do pânico.

O medo do amanhã, de enlouquecer, de morrer, de que algo ruim aconteça a um familiar, de engasgar com um alimento seja qual for, de tomar banho, de dormir e não acordar, de ficar preso no elevador vai preenchendo a mente do sujeito de tal forma que ele já nem mais consegue lembrar como tudo isto começou.

Lembro-me de uma paciente que evitava comer porque, segundo sua “lógica”, o alimento poderia causar um sufocamento que a levaria ao óbito. “Mas isto não faz sentido”- diria você leitor. “Exatamente”- eu comentaria. O medo é irracional. A única racionalidade realmente presente no comportamento da paciente em questão era a de que logo, logo, ela morreria não de medo, mas de inanição.

A Síndrome do Pânico geralmente ocorre em virtude de situações de elevado nível de estresse. Os fatores genéticos também são componentes importantes para o seu surgimento. Diminuir o grau de ansiedade e entrar em contato com a realidade são medidas necessárias durante o tratamento que, na maioria dos casos, precisa da intervenção medicamentosa.

Em um ataque de pânico, o sistema de alerta do sujeito está desregulado. O alarme dispara sem que haja uma real necessidade do corpo se proteger, defender-se, lutar contra algo perigoso. Por isto, que, há algumas linhas, referi-me a uma incompatibilidade com a realidade, uma incoerência com o que a situação real oferece. Nesses momentos, fundamental se faz um trabalho com a respiração, desacelerando-a até a pessoa se acalmar.

É importante lembrar que, associado ao pânico, podemos ter um quadro de depressão e de transtorno obsessivo-compulsivo. A depressão aparece porque a auto-estima da pessoa acaba por ser atingida, sentindo-se impotente diante da incapacidade para controlar as crises e o TOC em decorrência da presença constante dos maus pensamentos que determinam como devem ser seus comportamentos (ex: não vou sair na rua porque posso sofrer um acidente e morrer ).

Imprescindível se faz a psicoterapia para ajudar o paciente no gerenciamento da ansiedade, na interpretação das suas reações corporais (para aprender a diferenciar uma reação normal de um início de crise), no resgate da confiança em seu próprio corpo, no controle de sua respiração, no processo de percepção e diferenciação entre perigo real e perigo imaginário, dentre outros procedimentos que fazem parte do processo.

Um abraço
Thatianny Moreira