segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Transtorno de Ruminação: Você já ouviu falar nisso?


Aposto que você já verbalizou a seguinte frase: “Estou aqui, ruminando umas ideias...” ou então, “Preciso de mais um tempo para ruminar sua proposta”.
Ruminar também tem este significado no dicionário: o ato de refletir, mais demoradamente, sobre algum assunto. Digo também, justamente porque seu significado mais comumente usado faz referência aos animais ruminantes (bovinos, veados, girafas, camelos). Estes animais têm o estômago dividido em quatro cavidades: pança ou rúmen, barrete, folhoso e coagulador. Quando eles comem, praticamente não mastigam as ervas do pasto. As ervas ficam acumuladas no rúmen. Mais tarde, eles fazem o alimento retornar à boca e é como se dessem sequência ao processo de mastigação. Nos ruminantes, isto ocorre de uma forma natural.
Contrariamente, nos seres humanos tal fenômeno não é considerado algo natural. Tanto não é que está enumerado no Manual de Classificação Internacional das Doenças: CID. O código que faz menção ao transtorno de ruminação é o F. 98.2. Trata-se de um Transtorno Alimentar, porém, quando os sintomas ocorrem, de modo exclusivo, no curso de uma anorexia ou bulimia, o Transtorno de Ruminação não pode ser dado como diagnóstico.
Na Psiquiatria, a ruminação é uma “forma obsessiva de pensamento na qual as mesmas ideias ou temas se repetem, excluindo outros tipos de atividade mental” (http://www.dicionarioinformal.com.br/ruminação/). Nela geralmente, a pessoa encontra-se deprimida. Aqui, verifica-se a importância da psicoterapia.
Os sintomas típicos deste transtorno não são devidos a nenhuma condição gastrointestinal ou qualquer outra condição médica, ou seja, não há uma disfunção do funcionamento gastrointestinal ou de outro órgão do corpo. É apresentado, em sua grande maioria, em bebês, mas também pode se manifestar em pessoas mais velhas, principalmente quando há algum retardo mental.
Por não haver um correspondente fisiológico, faz-se imprescindível a busca de fatores de ordem emocional, psicossocial. Percebe-se que o transtorno se manifesta em pessoas com dificuldades na relação filho-pais, submetidas a situações de vida estressantes, bem como, quando há negligência ou falta de estimulação na condução da educação (dos cuidados básicos e necessários ao desenvolvimento) da criança.
Segundo pesquisas, ocorre com mais frequência em pessoas do sexo masculino. Mas não é um transtorno muito comum. Está mais relacionado a atrasos nas fases de desenvolvimento da criança. A idade de início está em torno dos 3 aos 12 meses.
Algo instigante nesta doença é que a pessoa acometida não sente repugnância ao ato. Também não há esforço para vomitar e nem são sentidas náuseas. O fato de não sentir repugnância, nem náuseas, nem vômitos não implica em dizer que não haja perigo à saúde da pessoa. Pelo contrário, há risco de morte, já que pode haver perda de peso e consequente quadro de desnutrição.
Devemos fazer o seguinte questionamento: Se ruminar é trazer de volta algo que não ficou bem mastigado, o que estou tendo dificuldade de digerir? Por que as mesmas ideias voltam a rondar meus pensamentos? O que não estou tendo condições de captar da primeira vez que a mensagem me chega e que me faz necessitar de um retorno da mesma mensagem? Se o que retorna é algo que não consegui modificar em um primeiro momento, o que está me faltando para conseguir?
Ruminar faz referência a pensamentos circulares no sentido de que retornam, circulam, vão e vêm. Esses pensamentos atormentam a pessoa, causam insatisfação, desconforto, além de desperdiçarem o tempo. É certo que as nossas decisões não devem ser tomadas logo em decorrência de uma primeira reflexão. Muitas decisões requerem um pensar mais elaborado. Mas é certo também que ideias que se repetem e martelam em nossas mentes insistentemente são tidas como obsessões que caracterizam uma vida não saudável. Por isso mesmo, aquilo que vai e volta sem fazer parte de um processo natural da vida é preocupante. Por esta razão, necessário se faz romper este processo, resgatando a trajetória normal e quebrar o ciclo dos sintomas da ruminação.
Espero ter levado a vocês uma noção do que seja o Transtorno de Ruminação.
Até nosso próximo texto.

Thatianny Moreira.