terça-feira, 16 de outubro de 2012

Considerações a respeito das conclusões decorrentes de uma pesquisa sobre relações extraconjugais:


Como se não bastassem os diversos fatores que bombardeiam a instituição família, dados revelados por uma pesquisadora e socióloga, entrevistada na Revista Época, http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2012/10/aprenda-esperar.html , na pg. 72, parte IDEIAS, acabam por tornar ainda mais árdua a nossa tarefa de profissionais que atuam com o intuito de preservar os valores que devem ser cultivados no ambiente familiar.

A socióloga, conhecida por ser superpolêmica em seus pontos de vista, divulgou dados de sua pesquisa realizada com usuários de sites para infiéis. Na entrevista chega a verbalizar a seguinte afirmação: “Gostar de comer em casa diariamente não nos impede de ir ao restaurante de vez em quando”. Tamanha irresponsabilidade não pôde passar despercebida por mim, já que, na minha prática clínica, deparo-me com adolescentes, mães e pais destruídos emocionalmente em virtude de traições cometidas por um dos parceiros. Portanto, sinto-me com autoridade suficiente para me manifestar.

Afirmar que “ter um caso faz bem ao casamento” é uma atitude no mínimo irresponsável. Devemos trabalhar a favor da instituição família e não contra ela. É claro que não se deve manter o casamento quando se está infeliz e que, muitas vezes, a saúde dos membros de uma família poderá ser resgatada optando por um divórcio mais do que se os pais permanecerem “unidos”; como, inclusive, já discuti aqui no meu blog em outro texto. Porém, penso que, se um casal perdeu a vitalidade da vida sexual, a solução não está em incentivar o sexo fora do casamento. Penso que o tédio apenas tomará conta do matrimônio se não houver interesse do casal em driblá-lo. Penso que muitos anos de casamento não, necessariamente, faz com que marido e mulher deixem de serem “amantes românticos”. Penso também que marido e mulher podem e devem ser amigos e, portanto, não concordo com o que a socióloga declarou ao entrevistador: que “os casais viram mais amigos que amantes românticos e isso ajuda a explicar porque buscamos mais casos extraconjugais hoje em dia”.

É inacreditável inclusive outra sugestão dada pela pesquisadora: a de que é preciso ignorar a traição e seguir adiante com o relacionamento. Esse “conselho” desconsidera a dor de quem foi traído e é indiferente ao problema pelo qual esse casamento está sendo assolado. Dizer que uma relação extraconjugal traz melhoras ao matrimônio e que “as pessoas ficam mais felizes e bem-humoradas” é algo absurdo. Como é possível ser feliz com base em comportamentos que não priorizam o respeito na relação?! O respeito é algo básico em qualquer relação a dois.

A falta de respeito à dor de quem sofreu a traição não está, no meu entendimento, sendo levada em consideração nas declarações feitas nesta entrevista. Afirmar que a pessoa traída se sente pressionada pela sociedade que cobra uma atitude ­­­­­­­e que “a fofoca é um poderoso mecanismo de pressão social” é, no mínimo, pressupor que o ser humano não é um ser ativo, capaz de fazer suas escolhas e tomar suas decisões. O ser humano não é um mero fantoche que a sociedade usa em suas “brincadeiras”.

Não posso me omitir diante de tão aberração textual! Nem posso me conformar em ver o ser humano, algo que para mim é tão precioso em minha atuação profissional, rebaixado a tal nível. Nós não somos canibais que saímos pela rua procurando outra carne para nos deliciarmos sexualmente. Não somos objetos de consumo. Não podemos admitir tamanha ameaça à instituição família. E não se trata de mero moralismo. Trata-se, antes de qualquer coisa, de proteger algo que já vem sendo tão prejudicado com as drogas, com a falta de responsabilidade pela saúde/educação por parte dos nossos governantes, com a falta de vergonha por parte de alguns que representam a política, entre tantos outros determinantes.

Se você está infeliz no seu matrimônio, a sua felicidade, com certeza, não será encontrada no desfrutar de tantos quantos corpos você desejar possuir fora de sua casa. Até porque essa busca será seguida por um imenso vazio, um vazio sem precedentes e que não lhe fará um sujeito mais consciente de seus atos e, portanto, não mais maduro.
Até breve.
Thatianny Moreira

Como superar a dor da morte?



 Infelizmente, sabemos que é inerente ao ser humano a finitude. Nós nascemos, crescemos, desenvolvemos e morremos. É por isso que dizemos que a única certeza que temos é a morte.

Apesar de ser algo certo, o ser humano vivencia tal momento com muita dor, angústia, medo e inconformismo. Não aceitamos com facilidade a perda de um ente querido, de alguém especial e muito significativo em nossas vidas. E isso é mais do que compreensível. Mesmo as pessoas que têm uma vida espiritual desenvolvida têm dificuldade de assimilar tal informação. Mas, sem dúvida, conseguem transpo, o momento advindo com a partida de um ente querido, com menos transtornos que aqueles que não têm crença alguma.

A morte nos abala também porque causa toda uma desestruturação numa dinâmica que já estava organizada e em funcionamento. Com a partida de alguém, principalmente dependendo da função desempenhada por esta pessoa na família (às vezes, a pessoa que partiu era a voz ativa ou mesmo o provedor do lar), a desorganização gerada torna-se ainda maior. A pessoa se vê perdida, sem rumo, impotente. O estado de choque paralisa aquele que ficou de tal forma que não consegue agir.

Alguns autores já escreveram sobre os estágios vivenciados por uma pessoa que passou pela situação traumática de perder alguém. Os estágios são os seguintes: primeiramente, há uma negação do acontecido. A dor é de uma dimensão tão gigantesca que preferimos negar que o fato ocorreu. É um mecanismo de defesa acionado por nossa psique. Em seguida, vem a etapa da Raiva, da Ira. O ser se revolta com a perda. Fica irritado, não aceita, tem comportamentos agressivos, briga com Deus e com todos. Num terceiro momento, vem a Barganha. Tentamos negociar com Deus um retorno do ente que morreu. Fazemos promessas, juramentos. A todo custo, procuramos reaver o que foi perdido. O estágio seguinte é o da Depressão. Depois de tanto empenho, tanto desgaste físico e mental, é como se a pessoa já não mais dispondo de forças, de energias, desfalece. Entrega-se, então, à depressão. Após esse estágio, temos o da Aceitação onde a pessoa, finalmente, conseguiu “assimilar” a morte do outro. Percebendo que já não é possível barganhar, já não mais adianta chorar, ficar deprimido, é hora de seguir adiante e reorganizar a vida.

Passada a tempestade maior, esse é então o momento de lidar com a nova composição familiar, com a nova dinâmica da vida. Amigos, parentes são de fundamental importância nesse instante. A solidariedade dos outros é essencial para que a pessoa possa se reerguer, reconstruir-se. É a hora de buscarmos os recursos que temos disponíveis para recomeçar. A lembrança do ente querido vai ficar guardada na memória e no coração de quem ficou. Mas quem ficou precisa continuar valorizando a sua existência. É necessário prosseguir cuidando de si mesmo e de quem ficou que, algumas vezes, ainda é alguém que depende de atenção, carinho e cuidados básicos para sobreviver (quando morre um pai ou mãe que deixaram filhos pequenos).

Em decorrência de todos os motivos, acima elucidados, recomenda-se um acompanhamento psicológico para aqueles que ficaram. A psicoterapia vai auxiliar nesta nova caminhada e, aos poucos, com o devido suporte e a atenção genuína de um profissional da Psicologia, vamos chegando à conclusão de que a vida é assim: um verdadeiro recomeçar, um ciclo que não para.

A todos, um caloroso abraço.
Thatianny Moreira