Como se não bastassem os diversos
fatores que bombardeiam a instituição família, dados revelados por uma
pesquisadora e socióloga, entrevistada na Revista Época, http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2012/10/aprenda-esperar.html
, na pg. 72, parte IDEIAS, acabam por tornar ainda mais árdua a nossa tarefa de
profissionais que atuam com o intuito de preservar os valores que devem ser
cultivados no ambiente familiar.
A socióloga, conhecida por ser
superpolêmica em seus pontos de vista, divulgou dados de sua pesquisa realizada
com usuários de sites para infiéis. Na entrevista chega a verbalizar a seguinte
afirmação: “Gostar de comer em casa
diariamente não nos impede de ir ao restaurante de vez em quando”. Tamanha
irresponsabilidade não pôde passar despercebida por mim, já que, na minha
prática clínica, deparo-me com adolescentes, mães e pais destruídos
emocionalmente em virtude de traições cometidas por um dos parceiros. Portanto,
sinto-me com autoridade suficiente para me manifestar.
Afirmar que “ter um caso faz bem ao casamento” é uma atitude no mínimo irresponsável.
Devemos trabalhar a favor da instituição família e não contra ela. É claro que
não se deve manter o casamento quando se está infeliz e que, muitas vezes, a
saúde dos membros de uma família poderá ser resgatada optando por um divórcio
mais do que se os pais permanecerem “unidos”; como, inclusive, já discuti aqui
no meu blog em outro texto. Porém, penso que, se um casal perdeu a vitalidade
da vida sexual, a solução não está em incentivar o sexo fora do casamento. Penso
que o tédio apenas tomará conta do matrimônio se não houver interesse do casal
em driblá-lo. Penso que muitos anos de casamento não, necessariamente, faz com
que marido e mulher deixem de serem “amantes
românticos”. Penso também que marido e mulher podem e devem ser amigos e,
portanto, não concordo com o que a socióloga declarou ao entrevistador: que “os casais viram mais amigos que amantes
românticos e isso ajuda a explicar porque buscamos mais casos extraconjugais
hoje em dia”.
É inacreditável inclusive outra
sugestão dada pela pesquisadora: a de que é preciso ignorar a traição e seguir
adiante com o relacionamento. Esse “conselho” desconsidera a dor de quem foi
traído e é indiferente ao problema pelo qual esse casamento está sendo
assolado. Dizer que uma relação extraconjugal traz melhoras ao matrimônio e que
“as pessoas ficam mais felizes e
bem-humoradas” é algo absurdo. Como é possível ser feliz com base em
comportamentos que não priorizam o respeito na relação?! O respeito é algo
básico em qualquer relação a dois.
A falta de respeito à dor de quem
sofreu a traição não está, no meu entendimento, sendo levada em consideração
nas declarações feitas nesta entrevista. Afirmar que a pessoa traída se sente
pressionada pela sociedade que cobra uma atitude e que “a fofoca é um poderoso mecanismo de pressão
social” é, no mínimo, pressupor que o ser humano não é um ser ativo, capaz
de fazer suas escolhas e tomar suas decisões. O ser humano não é um mero
fantoche que a sociedade usa em suas “brincadeiras”.
Não posso me omitir diante de tão
aberração textual! Nem posso me conformar em ver o ser humano, algo que para
mim é tão precioso em minha atuação profissional, rebaixado a tal nível. Nós
não somos canibais que saímos pela rua procurando outra carne para nos
deliciarmos sexualmente. Não somos objetos de consumo. Não podemos admitir
tamanha ameaça à instituição família. E não se trata de mero moralismo.
Trata-se, antes de qualquer coisa, de proteger algo que já vem sendo tão
prejudicado com as drogas, com a falta de responsabilidade pela saúde/educação
por parte dos nossos governantes, com a falta de vergonha por parte de alguns
que representam a política, entre tantos outros determinantes.
Se você está infeliz no seu
matrimônio, a sua felicidade, com certeza, não será encontrada no desfrutar de
tantos quantos corpos você desejar possuir fora de sua casa. Até porque essa
busca será seguida por um imenso vazio, um vazio sem precedentes e que não lhe
fará um sujeito mais consciente de seus atos e, portanto, não mais maduro.
Até breve.
Thatianny Moreira