O trabalho infantil é defeso por
lei. Em nossa Constituição existem artigos que versam explicitamente sobre a
proibição deste tipo de prática. Para quem tiver interesse de ampliar o
conhecimento sobre o tema, recomendo a leitura do artigo 7º, inciso XXXIII da
Carta Magna. No texto constitucional também é possível observar claramente no
artigo 6º, a menção aos direitos sociais, dentre eles, o de proteger a
infância. Podemos indicar ainda o Decreto 6.481 que trata da proibição das
piores formas de trabalho infantil e a ação imediata para que este seja banido.
Submeter crianças a trabalho é
algo que traz prejuízos não somente físicos, mas também psicológicos. Este é o
foco do nosso artigo: a repercussão, na esfera psicológica, da exposição de uma
criança ao trabalho.
Para que o desenvolvimento de uma
criança ocorra de forma plena, é necessário que ela vivencie todas as etapas que
o constituem. Vivenciar o lúdico, por exemplo, no contato com outras crianças
da mesma faixa etária é algo fundamental para sua socialização. Na interação
com iguais, ela aprenderá regras de como viver em sociedade, experimentará
trabalhar em equipe, desenvolverá capacidade para lidar com diferentes tipos de
personalidade, aprimorará sua capacidade de coordenação motora, enfim, poderá
adquirir habilidades fundamentais para a vida adulta.
Quando retiramos um ser pequenino
do seu lar para desempenhar um labor, estamos privando-o de viver experiências
cruciais para um desenvolvimento saudável. O convívio com a família fica
comprometido. A relação com os pais fica distanciada e a criança perde a
oportunidade de receber carinho, atenção e ensinamentos importantes para sua
vida. Ademais, tarefas atribuídas a este ser em desenvolvimento podem ter um
grau de complexidade incompatível com a capacidade disponível naquele momento,
podendo gerar na criança a sensação de que é incapaz, que não possui Inteligência,
etc.
Com o passar do tempo, a criança
pode ter um comprometimento da sua autoestima, pois, à medida que ela executa
atividades e não obtém sucesso, estas vivências estão sendo registradas de um
modo negativo, levando-a a acreditar que não ela não tem potencial para nada.
Instala-se um complexo de inferioridade que a impedirá de sentir-se competitiva
para enfrentar desafios no futuro.
Todos nós aprendemos, ao longo da
vida, a ter responsabilidades. Vale ressaltar, no entanto, que tais responsabilidades
vão sendo adquiridas de modo gradativo e de acordo com a bagagem que vai sendo
acumulada. Certas responsabilidades são típicas da vida adulta porque só um
adulto terá condições físicas e mentais de cumpri-las a contento. Se isto não
fizesse sentido, não teríamos, nas instituições educacionais, uma divisão das
séries escolares por faixa de idade. O conteúdo programático visto no ensino
médio seria aplicado sem problemas no ensino fundamental. E isto ocorre porque
o desenvolvimento do cérebro humano passa por estágios. Certas operações
mentais, por exemplo, só conseguimos processar depois de uma determinada idade.
Então, como exigir de uma criança algo que o cérebro dela terá capacidade de
processar apenas mais adiante?
Portanto, além de descumprir a
lei, quem sujeita uma criança ao trabalho está sendo desumano, visto que não
está respeitando condições inerentes ao desenvolvimento da própria espécie. Está ainda
sendo irresponsável, pois expõe um ser inocente a situações que podem
representar perigo à própria vida: ao realizar atividades domésticas por
exemplo a criança pode ingerir produtos químicos acidentalmente ou mesmo sofrer
risco de queimaduras, caso manipule eletrodomésticos que produzam fogo.
A exploração do trabalho infantil
não se limita à realização de tarefas domésticas. Ela é muito mais ultrajante e
absurdo, já que se registra o uso de crianças até mesmo na prostituição, na
agropecuária e em outros ambientes insalubres e perigosos. Dependendo do tipo
de atividade exercida, ela pode desenvolver câncer de pele e deformações
ósseas.
Da criança que trabalha é
extraída a possibilidade de adquirir conhecimento, já que geralmente, não lhe
resta tempo para frequentar a escola. E mesmo quando conseguem ir à escola, o
rendimento fica prejudicado. A fadiga não permite que ela se concentre o
suficiente para assimilar o que é transmitido e logo vem o baixo rendimento
seguido da evasão escolar.
A criança submetida ao trabalho
infantil pode manifestar sentimento de revolta, já que não tem suas necessidades
básicas atendidas. Ela pode interpretar que não merece atenção, carinho e amor.
Esta sensação pode se intensificar ao ponto dela começar a apresentar problemas
de comportamento: ser violenta, vingativa, agressiva como uma maneira de
expressar sua indignação com a situação ou mesmo chamar atenção para sua dor.
Cuidemos então de nossas crianças
proporcionando-as tudo que é essencial. Desta maneira, no futuro, nossos olhos
não irão se deparar com cenas lastimáveis como as que temos visto.
Até nosso próximo artigo!
Thatianny Bezerra Moreira da Silva